Encostada
Essa mulher te espera
apoiada na parede sem reboco
essa que não a vês, amiga
Falas sobre ela, enquanto ela tira a palha do campo
Enquanto ela segue agarrando a testa porque falta chuva
Falas de longe sobre ela.
falas dela e de todas como que armando uma bomba
Encostada
Falas de longe...
Te encostas nela para fazer amor
pra tua voz vestir sua rebeldia
falas dela e ela volta caminhando no chão de barro as 17h30 da escola
Te encostas e pegas impulso para ir pisando pisos altos, comer bocaditos... e lamber feridas inventadas
Ela apenas assovia pro pássaro que voa na tarde e acha graça quando os jacus sobrevoam o filho miltinho
Te encostas nela pra afiar palavras
E ela ora, porque ela ora por todos,
que nem os pássaros que não têm nome e irá no vento
Tu treinas, ela está parindo mandiocas
Está segurando uma escola entre os dedos, enquanto finges a dor que ela deveras sente
Quando chegas na feira orgânica, ela já está dormindo encostada entre molhos, ramos e matos
Essa mulher te esperava
e o destino as juntaria
E a abandonaste
porque tem risco, risco da real margem
ser nada
como ela
Comentários
Postar um comentário