Chove
Chove faz uma semana, os raios tomam o céu e parecem mover os móveis do andar de cima como bem sabem as crianças. A água é total, sem brecha para trabalho, para manter a casa seca, para uma sanidade que só acontece no seco.
Casa tomada - desse sul. Última parte da casa é a cama, o quarto expõe uma umidade repugnante, as roupas já cheiram a musgo e a cansaço e a sensação é de uma nuvem pairando no interior dos cômodos.
Afora as plantas recém chegam da estufa perfeita e tomam kilos de gotas espessas e devem se perguntar que mundo é esse... torrencial ininterrupto.
Quem poderia viver nesse lodo? Praticar alguma economia?
As roupas todas molhadas e sujas. As estradas embarradas e a luz elétrica oscilava entre quase aceso e para sempre apagado. Quem arrumaria a luz dessa rua?
É o momento que o sábio se mostra sábio e o estúpido agoniza. Como estúpida, espero as horas secas, sonho com a secura do monte, ou com as áreas vermelhas de Brasília. Até mesmo o deserto que nunca conheci se tornou um oásis. A música das gotas as vezes não são poesia.
Uma senhora que um dia olhava pela varanda daqui disse "por aqui todos já nascem meio sapo meio humanos"
As coisas escorrem por água baixo, as cavernas das casas das pessoas apodrecem sonhos e a cidade não pode ter outro tom que o do desmanchar diante do que nunca se secará de todo.
Esperamos dias até o sol voltar e humildemente se render ao que nunca seca. Até o sol se rende a essa fundura do pampa.
Por mais oração, a luta écontra moby Dick. Perder é o destino humano. Humano sapo.
Se anunciam dilúvios, já estamos treinados.
O não estar em terra seca, nem no mar, é um estado intermédio preocupante, é como esse fim do mundo lento que nos rodeia e come pelas beiradas e nunca é de todo, mas é. Humanos virando sapos, renascendo quase sapos, não golfinhos, mas como os malcriados filhos de macondo com rabos de porco. Da infâmia dos amores, nasceram os sapohumanos...
Nós os pecadores de todos os jardins, os embrujados de palavras e entonacoes ultrajantes, os que falaram com vento e caíram, os que nunca entenderam nada mas não perderam o bailado, amar de tanto, nos fez para o úmido. Fomos nascendo sapos
O olhar da gente daqui, do escudo de cristal do planeta, como cantam, é um olhar molhado e cansado. Demasiadas emoções. Demasiada ausência...não chega a melancolia....
O sol quando vem arrebata todos e nada eh mais importante que o mate. A praça é o mate. O nada com sol, secar é a dedicação Campesina desse lugar...
Se proliferam os negócios de lavação de roupa e secagem. As amizades nascem nesses lugares. Aperte esse botão aqui. Que chuva não? Ah que roupa cheirosa.
E dizem por aqui Merece. Merece essa água.. Merece essa eterna juventude líquida. Há uma atemporalidade não se pode firmar raízes.
As colheitas apodrecem rápido. As abóboras na Argentina duravam meses...aqui já se foram. Não há muito que fazer. O chão brota água e nenhum invento humano venceu de todo o poder molhado dessa cidade.
Amanhã fará chuva.
Ele virá para nós ajudar na horta. A horta navega em sonhos. Nos navegamos sonhos antigos. Secarão os solos da temperança?
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