Luz de Outubro
Espírito, espírito da vida, como brincas conosco! São raros os dias assim, mas há dias em que não temos mais dúvidas, não temos dúvidas de que o dia quer viver assim, oferecido e simples. Hoje fui surpreendida. A primavera chegou no Vale, chegou parando a roda da fortuna dentro de nós, parando a máquina de calcular que penetra tudo, até no campo chega, e não percebemos, e com a chegada da Luz de Outubro tudo parou. Estalaram as gotículas das árvores, o chão ficou mais verde e o vermelho dos lírios vimos que eram para os besouros e abelhas beberem dos seus segredos, e o milagre aconteceu, nós, bichos inquietos, paramos para ver e beber do que tínhamos sede...
A Luz de Outubro não anuncia coisas, veio e chegou se esparramando por todo. Não sabia que sentia falta dessa luz doce que hoje, como um manto, cobre a paragem e até um gambá imenso ficou nos fitando, sem pressa nenhuma, sob a luz de outubro... A luz chegou e fiquei mais dela, com vontade de estar desde dentro, em paz, espraiar, comer do verde igual lagarta e dançar com as mãozinhas para cima, sabe assim, como se dança para Gopala ou para Krishna, e o ruído se foi... Coloquei no colo o mundo... E, nessa quietude, pude sentir os amigos subindo nas alturas, aqui tudo desliza ao seu lugar tranquilo. O espaço de baixo e o de cima é amplo e sereno. A luz encontrando sua morada, em cada casita nossa, o quanto se aprende, quieto, deixando a luz nos levar pelas mãos... Hoje consegui escutar a terra chamando para o plantio, e fomos com os milhos e feijões a fazer buracos… e, quando terminamos as linhas, começaram os raios e a chuva. Justo... que sincronia, era ela A Luz de outubro... brincando... Fazia tempo que não escutava esse espaço por detrás do espaço, fazia tempo que as canções não faziam cosquinha no coração, como só a Luz faz... Está se emanando desde o profundo um perfume extasiante... Por trás de toda pressa e confusão, há um telar de querer mútuo das criaturas. Somos apenas bichitos dessa vida... A entrega é um caminho misterioso, que, quando nos chega, há uma vontade de namorar com a vida, oferecida e vermelha como esses lírios e tormentas de primavera... Sinto o sistema desmanchar nesse pequenino fogo da vela agora, deixo o mantra voltar a ecoar o eterno e não apenas tocar na maquina, a ressurreição acontece de repente... e é doce...
Comentários
Postar um comentário