"No mundo, um grande amor perdi"

 Essa sempre foi a parte da Vaca Profana que me trazia presságios e melancolia.


Estive pensando no que vou te dizer quando te encontrar, não de repente, não  na feira do Bomfim, que nunca gostei. Nem como antigamente, no rio, na pedra larga ou debaixo da figueira. 


Penso na estranha sensação de conversar com uma personagem que terás criado, enquanto ainda olho aquele olhar antigo que sustentavas diante de uma vela ou de uma flor caída e eu intuía por onde andavas por dentro...


Agora, apenas essa sensação miraculosa de não mais te encontrar e ser você. E depois de tudo aplaudir tua intransparência?

 Encontraste um ódio particular, um cabelo novo, um jeito de girar o copo, e burlas. Só 10, 20 pessoas agora podem tocar tua áurea, mais restrita, mais só tua, e eras tão via láctea, não  tinhas tempo para pegar bronze, porque antes, carcomias de sol como gente austral.

Escolheste levantar o braço ao som de Caetano, baixar a perna com baianos e por fim dormir com o silêncio da cidade e algum rugir de dentes.


 Eu gostava quando olhávamos tímidas, pedindo milagres aos cerros.


Admiro qualquer coisa que acontece enquanto a gente espera milagres. 


E a memória é o maior milagre. 

Nunca olvido não são  palavras-de-moda latinas. Nunca olvido é algo mais que segurança ou estilística. Em um ser humano  deveria ser a porta da Amizade.. Onde ardeu a ternura, fomos. Como essa de se plantar batata doce em outubro.

Segurei cada folha, o verde é liso, escuro, queria poder te comentar essas coisas. Você sabe, e tirar essas fotos sem ninguém, sem ninguém, só a ranhura e depois mostrarmos pro mundo que a textura das coisas são tão eróticas como a da gente. E somos texturas puras na mistura da noite. Fomos da noite, e agora a noite está povoada de vaga-lumes elétricos em ti.

Me uni ao movimento da recusa. Recuso criar hipérboles dos nossos fatos ou esquecer. Quero o cultivo sóbrio e pequeno. 

A vida cresce, o rio do vale passa, a grama do vizinho é mais bonita que a nossa, a árvore de algodão presenteia centros de presépio, um homem em carro de boi passeia na manhã, o cigarro na boca da amiga é beleza.


Sei que quando te ver de repente, não estarás e já me pergunto, então pra onde te foste. E ao mesmo tempo te olhando muda, dirás em enanos-segundos esticados, aqui estou e me perguntarei aonde?...e há coisas, que demoraria uma tarde inteira e não iriam se revelar. Ariadne poderia lançar-se aqui. Há um Minotauro de muros e desejos complexos e nós.


Esse teu sotaque novo e esses diversos trejeitos apertados nos olhos, segurando a rede do destino aí bem aí, onde andas.


Não sei nem como pisar teu chão. Teu território demarcado não com xixi no mato, mas com esse olhar novo, ai que eu vi... o cinismo elegante, como é elegante o cinismo....apartai-nos do cinismo como diabo foge da cruz..uma vez dissemos, mas as palavras vão com o vento.


 Não sei com que cara te chamarei, mas que besteira é achar que se chama outra pessoa com a boca. 


Porque dentro, seguro ainda tua mão. E como aceitar que nem se quer tem mãos agora  porque agora dizes que tem só asas , como Frida Kahlo, e agora galopas a natural rebeldia contra o que cria fibra na terra. Crês realmente que voas com asas de ódio e medo?


Fiquei com essa estranha paisagem, sem nada. Te foste e nem sabias que fazíamos bijuterias de orvalhos, tinhas pressa. Ninguém de nós saberia o que dizer disso tudo. Hoje a dor move os destino mais que o amor.

Se você se foi é porque precisavas parar, tens medo de sua imagem bonita borrar-se. E hoje só me resta escrever. O imenso e escuro X o claro e o chão liso para rolar, girar, torcer. A dicotomia, a impotência do amor, o o esquecimento da voz, a voz a voz doce... Até a voz terás mudado. 

Sigo aqui onde não se sabe... nunca saberei. Só recuso a esquecer, me recuso a desamar, até puxar a linha de casa, voltar ao lar, todos esses nossos pássaros y risas...

La risa de la tierra..

Toda vaca profana guarda la risa de la terra, e um retorno

 por agora, tentas destruir tudo em uma jaula chamada medo... 

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