Que las hay, hay
Era um showroom desses com peças raras em são Cristóvão, o senhor Almeida exibia uma alta coleção de pedras preciosas de segunda, artefatos, incensos. As duas amigas entraram na loja assombradas com as pedras gigantes no galpão do estabelecimento. Máquinas barulhentas cortavam ametistas, esmeraldas, cristais do cerrado. Subiram as escadas e lá estava o salão com toda espécie de produtos telúricos.
Um paraíso, dizia a mais velha, tudo barato. As paredes lotadas e outra parede com espelho grande e escuro. Passaram como 2 horas xeretando tudo e juntando as compras do mês. De repente, de trás do suposto espelho, abriu-se uma porta e saiu Seu Almeida.
O homem assustou as duas e a amiga mais velha na hora pôs as mãos no bolso duvidando de si mesma se havia roubado algo, tinha certeza que não, mas sua certeza diminuía a medida que o homem enigmático a olhava fixamente. A amiga mais nova olhava a mais velha, duvidando de sua idoneidade.
O homem porém olhando-a de cabo a rabo, pediu com gentileza à mais velha
- Por favor me acompanhe ao meu escritório.
Este ficava justamente atrás do espelho e um acesso de vergonha tomou a senhora pensando que este homem as estaria observando há mais de duas horas atrás da janela escura, experimentando chapéus, roupas, pedras...
Sentado em sua grande cadeira senhor Almeida então disse:
- Estive na Amazônia há muitos anos atrás, retirei muitas dessas pedras de lá, conheci uma senhora velha que me disse que para meu negócio nunca sofrer um ataque, teria que cumprir uma missão. Me disse para fazer 11 vassouras e dar de presente elas a 11 bruxas que visitariam meu negócio. Peço licença, mas a senhora, estive observando, é uma dessas. Gostaria de levar a vassoura?
Neste momento apontou para um parede com mais de 5 vassouras mágicas penduradas. Pegou uma grande para o peso e tamanho da mulher. Essa segurou e sorriu travessa para a outra que estava já ao seu lado observando de perto aquela loucura. A mais nova, sóbria e desconfiada, só foi ali acompanhar a amiga, só queria levar uns colarzinhos pra casa. Que tipo de convite mais doido era aquele.
Sem titubear, porém a amiga agarrou a vassoura e foi descendo pelo galpão rindo, agora sim ia economizar no taxi, já iriam voltar pra Madureira voando.
Chamaram na rua o primeiro taxi que parou um fusca. No rio não da pra dar mole, era esse. Não cabia a vassoura. A mais nova entrou e pediu desculpas por tudo aquilo ao motorista, a mais velha entrou falando alto que a vassoura iria de qualquer jeito, colocou o braço pra fora e foi segurando pelas ruas do subúrbio enquanto dava gritos e provocava nas sinaleiras:
- eh isso merrmo, é pro voar! está olhando que? Olha muito não que cai o pinto.
Atrás, falava com não se sabe quem, o mais baixo possível, a amiga, num telefonema que era mais uma fuga daquilo tudo que qualquer coisa, e logo cochichou para tentar controla-la.
- Que vergonha passear com você...Cada vez que saímos é uma vergonha. Vergonha
E outra gritava alto pro motorista, pra fora e pro céu.
- Essa noite vou chegar no Ricardo pela janela!! - e gargalhava dando detalhas das noites que a esperariam dali pra frente.
20 anos durou a vassoura e o negócio do seu almeida não sofreu nenhum roubo. Dizem, que ainda falta entregar uma vassoura.
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