Um dia...

 

Um dia restarão os livros em vez desses escritos em lugar nenhum. 

As árvores que tem esses caules rugosos, reivindicarão o lugar nobre de letras.. como papiro vivo dos que roçam na penumbra.. leitura real. Sabe?

Toque, decifre, volte.

Um dia estaremos livres dessa maquinaria agonizante, e até o cigarro valerá mais que os dedos nas telas.

Antes para uma notícia chegar ao mundo era preciso barco e quando chegava a guerra longe já havia terminado há meses.

E em rotas desimportantes, mídia ruim não vingava.

Uma vez vivi numa rota desimportante do mundo, que era Cabo Verde para saara e lá tu pode ter bônus que a Internet é limitada e a água e as mensagens são justas e não há isso de ninguém acima de ninguém, todos esquecidos pelo mundo juntos. A sensação de materialidade é tão grande quanto a da efemeridade das coisas. Aqui se reclama de vazios e tragédias e lá se cria sentido e morabeza com nada. Eu sempre lembro da vendedora de ovos que passou o dia inteiro com centenas de ovos em cima da cabeça e perguntei...quantos vendesse hoje? E ela disse: nenhum.

Até hoje escuto esse nenhum e essa notícia do real perdura. Dor real perdura e penetra essa parafernália de mentiras da nossa burguesia daqui. Essas crises atuais, esse labirinto de mentiras políticas, sociais e África retumbando... Nenhum nenhum. 

Se tem guerra lá a gente escuta a milhões de importâncias de distância. 

O mundo ainda é picnic de um lado e de outros cordas rompidas, rotas sem importância, gritos sem nem sequer eco.

Um dia os livros darão as notícias de África. Um dia voltaremos a pegar o fio da meada do tempo corajoso. O importante perderá para o essencial. O social perderá para o épico, para o poético. O frio perderá para o povo.

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