Assim todos descansamos

 Em uma casa vive uma gente

A casa é pequena

O jardim da casa fica te olhando como olham os jardins

Tem uma árvore grande e nela colocaram um balanço que cabe duas pessoas

A horta se seca na seca, se molha na chuva

Os caminhos são estreitos pra ir um na frente do outro, as crianças se ultrapassam, os animais tem outros caminhos

O mato cresce no verão, no inverno se tinge de bege

Quando falta tinta se usa barro e as vezes é só preguiça de pintar

O barro abunda, e quando toca na mão é gostoso

As abelhas se proliferaram com o jardim que as pessoas cuidam por cuidar 

A gente misturada viaja e o vizinho vem ver se está tudo bem  

O vizinho é  de nobre coração, pastor de ovelhas, não de palavras

A gente da casa fica menor, mas é só impressão, acontece quando o mundo aperta

A horta seca e plantas morrem, é o calor e pouca gente, mover água de lá pra cá é um trabalhão 

A casa é pequena, mas tem luar

E o luar no bambuzal é lindo

O rio é fino,  se você toma um mate com o rio, o quente entra e o frio do peito se vai

O caminho pro rio é estreito, e ao redor está vazio, só plantas que viram vassouras de campo  

Da para ir a dois, ou a sós com alguns livros. O livro nasceu pro campo e o campo espera livros, como a horta pede chuvas hoje

Há muitas palavras que ficaram nos galhos do caminho estreito entre as árvores, algumas eram palavras pra amigos distantes, saudades, também há palavras com lágrimas e as mais delicadas são os sussurros de amor entre amigos

Há árvores que nasceram delas mesmas e árvores plantadas por pessoas como nós, que não sabem que em dezembro não se plantam árvores, só mandiocas.

Nós plantamos bastante, mas muitas coisas a vida leva

Há canteiros de ervas e de verduras, as verduras são como pequenos animais, precisam de mais visitas, as ervas já nascem velhas e sobreviventes

As visitas vem pouco porque é longe da cidade e longe é um lugar que esquecemos de ir

A porteira se amarra sem cadeado, mas as vezes prendemos mais forte

Temos banheiros secos, molhados e o mato. É bom ir ao mato sem ter ninguém vendo e fazer xixi como se faz numa viagem de férias de antigamente

O ermo é uma palavra que fica nas beiras desse lugar

Ontem os pássaros entraram na sala, ninguém mais se espanta, são gente já e nós fauna, o cachorro não pode entrar pelas pulgas, o resto passeia

O forno de barro faz tempo que não trabalha, mas tem coisas que não precisam trabalhar, assim todos descansamos


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