Caê

De algum jeito somos de sua tribo. Ele não é nosso pai, avô muito menos, é Caetano, é nosso amigo que enfiava os pés magros nas areias de Santo Amaro, do Rio, magro de medonho, que esperava as cartas chegarem na casa de seu pai e de dona Canô. A gente exagera em tudo, mas  esses filhos de Canô inventaram o Brasil que a gente queria viver, fizeram o favor. Soltaram o gênio sensual da Bahia, amaram o bárbaro para então nós. 

Bethânia mostrou Carcará um dia, e ainda cantamos carcará com a força de seus 17. Como essas coisas que acontecem com um ser humano, e é uma coisa tão real que segue norteando, uma musa de mil forças. Não importa que já passou. O tempo é musica.  Essa geração, essa construção musical, essa gangue influiu até o Rei, que criou  Força Estranha e a beleza dos caracóis...

Essa encarnação coletiva nos fez e faz ler outro mundo dentro do mundo que vinha. Milton, Chico, Gal, Gil... Mundo é linguagem. Quantas melodias e letras como Transa, Podres Poderes, Cajuina, nos sustentam decisões? E o jeito que amaram? Quem não se tornou mais lésbica depois de Bethânia, mais leal no amor depois das declarações  de Milton sobre Elis, quem não se tornou menos ciumento com O Seu Amor sendo cantado no Canecão? Quem não amou as mulheres que vivem dentro de Chico Buarque? Quem não viu a face vil feminina vendo Gal nas mãos Wilma? E quem não viu Paula Lavigne desnortear as regras e bagunçar todas as certezas do certo, com sua historia de amor com Caetano?

Quanta história esses que fazem história no desandar e andar dos dias, na luta, no repertorio escolhido, na sucessão de pai pra filho, pra filha, para nós... O que fica? Heranças, grana, músicas, formas ou a mistura da arte com a fissura que tinham no lado, na carne?

Que deixam esses que cumprem o destino de serem corpos quentes? Envelhecem humanos, tenros, imperfeitos, os abre-alas, os bruxos que repartiram generosamente a luxuria da vida sobre nós...

Todos VACAS de divinas tetas... 

O legado deles saberemos na hora de escolher o pão com manteiga e as utopias para viver.

 

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